Importância da adesão aos princípios da empresa no mundo corporativo
Diretor de RH e Gestão do Negócio Carnes da JBS S.A. fala do futuro do setor e do foco no processo de aprendizagem dentro das indústrias: “aqui temos um lema ´o que não sei eu pergunto e aprendo se tiver humildade´, já a atitude é mais difícil de mudar”, e também da importância da adesão aos princípios e valores das organizações.
“… para mim o RH como função sofisticou-se muito e tornou complexo o que é simples, perdendo a adesão aos pressupostos do negócio ao qual atende” disse Otto Silva.
Qual é o perfil do profissional do qual as grandes empresas estão à procura? Capacitação acadêmica, conhecimento técnico, experiência… Quais são os critérios que garantem o sucesso no mundo corporativo? Como os profissionais aderem aos princípios da empresa?
Em entrevista exclusiva ao portal Labone, o Diretor de Recursos Humanos e Gestão do Negócio Carnes da JBS S.A., Otto Silva conta quais são as questões que interferem no desenvolvimento dos profissionais dentro de uma grande empresa, e quais são os requisitos que fazem a diferença para, não somente garantir uma vaga de emprego, mas também ter mais produtividade no cargo que ocupam.
Nascido em Lorena, no interior de São Paulo, Silva é economista por formação e aos 60 anos já esteve à frente de grandes indústrias, iniciando sua trajetória na área de Engenharia Industrial/Tempos e Métodos na Alcan Alumínio do Brasil S/A. Mas foi após um estágio no Japão que ele se tornou especialista em Kaizen e Melhoria Contínua.
Como o senhor iniciou sua trajetória profissional?
Iniciei na área de Engenharia Industrial/Tempos e Métodos na Alcan Alumínio do Brasil S/A, depois de um estágio no Japão passei a ser especialista em Kaizen e Melhoria Contínua. Assumi como Gerente de Produção e depois de 1 ano a Área de Treinamento & Desenvolvimento Operacional na Unidade de Pindamonhangaba. Em 1992 passei para Área de RH , Segurança & Saúde e Melhoria Contínua da mesma unidade.
Em assuma a Direção do Programa de Melhoria Contínua (Black Belt) da Alcan Alumínio no Brasil retornando ao RH em 2005, quando a partir de um Spin off a Alcan passou a ser Novelis , ligada ao grupo indiano ABG. Entre 2006 e 2010 conduzi como Diretor as áreas de RH, Segurança, Saúde e Meio Ambiente, Comunicação Interna e Melhoria Contínua da Novelis do Brasil. Deixei a Novelis em 2011 e como Consultor conduzi um Projeto de Implantação do Sistema de Gestão na Votorantim Cimentos, concluído em 2013, no mesmo ano assumi a área de RH, Segurança Saúde e Sistema de Gestão do Negócio de Carne Bovina (Friboi) da JBS S.A.
Empresa e cargo de atuação atual: Diretor de RH e Gestão do Negócio Carnes da JBS S.A.
Quais são as características (ou uma característica específica) de um profissional que fazem dele fundamental para a equipe?
Foco absoluto do negócio, atitude de dono e simplicidade.
E quais são as características (ou uma característica específica) de um profissional que mais “atrapalha” a equipe?
Capacidade de tornar Complexo e Prepotência.
O acesso mais facilitado ao Ensino Superior e aos cursos de extensão causou grandes mudanças no recrutamento dos profissionais?
Em minha opinião, nem tanto, pois a qualidade da formação superior no Brasil caiu muito. Nós que trabalhamos nos “rincões” do Brasil podemos constatar esta baixa qualidade na formação, porém aprendemos aqui na JBS que é possível aprender tudo que quisermos desde que tenhamos atitude. Aqui temos um lema “o que não sei eu pergunto e aprendo se tiver humildade”, já a atitude é mais difícil de mudar.
Neste cenário, a introdução de um recém-formado no mercado de trabalho acabou ficando mais difícil? O melhor caminho inclui os programas de estágio e trainee, iniciados ainda durante a formação acadêmica?
Parece que sim, porém em empresas que estão localizadas fora dos grandes centros, nem sempre esta é uma realidade, pois os recém-formados das escolas do “primeiro time” preferem sempre atuar nos grandes centros. Para nós que temos 40 unidades localizadas principalmente no MT, MS, PA, GO e RO, os programas de trainees tradicionais não têm sido eficazes, então temos buscado alternativas nas escolas locais para garantir uma maior taxa de retenção, considerando que os profissionais têm “raízes” e maior chance de adaptação nas pequenas cidades.
O que chama mais atenção no currículo de um profissional na fase de seleção?
Eu deixo a seleção de CVs para a equipe de Seleção, eu só me impressiono ou não quando tenho contato “face to face” com o Candidato. Prefiro ouvir dele suas experiências profissionais e até um pouco de vida. Aqui na JBS temos uma prática que são os Comitês de Seleção onde Líderes (6-7, em média) fazem uma “conversa” final com os candidatos já aprovados “tecnicamente” para checar se os mesmos têm os Princípios da Empresa. Para se ter uma ideia da importância que damos a este tema, todos os candidatos a cargos de Liderança de qualquer unidade do Brasil, de supervisor a Gerente, passam pelo Comitê do Escritório Central onde participam o Presidente e Diretores.
É comum que um profissional teoricamente qualificado para um cargo não tenho êxito na função? Quais são os fatores que podem fazer de uma pessoa academicamente preparada um profissional sem sucesso?
Adaptação, Adesão, Integração aos princípios e valores da Empresa. Aqui tivemos algumas experiências, mesmo com os Comitês citados acima, em que o profissional altamente qualificado e com experiência não se adapta e/ou é expurgado ou, por decisão própria, deixa a empresa em poucos meses.
Para o senhor, qual o maior desafio do RH atualmente?
Voltar às origens e focar nos desafios do negócio, para mim o RH como função sofisticou-se muito e tornou complexo o que é simples, perdendo a adesão aos pressupostos do negócio ao qual atende. Eu diria que [o RH] foi vítima da teoria do “fim em si mesmo”. É preciso ler o ambiente de negócio onde você está e colocar os objetivos deste negócio acima das teorias mirabolantes que foram criadas para, talvez, empresas com objetivos “mirabolantes”.
E quais são os rumos que, de acordo com o cenário atual, o setor vai tomar no futuro?
Eu estou há 25 anos em RH, vindo de áreas como Engenharia e Produção, e já vejo sinais de “Descomplexidade” nos processos e mais foco no que é relevante para o negócio. Por exemplo, hoje começam a rediscutir os processos de Avaliação de Desempenho e Competência com o objetivo de verificar se eles realmente agregam valor à melhoria de desempenho das pessoas e dos negócios, os questionamentos sobre conceder benefícios versus salários melhores (com a decisão ficando nas mãos dos colaboradores) e também um viés muito forte sobre as questões de Qualidade de Vida versus Vida Profissional.
Quais foram as características que mantiveram alguns profissionais indispensáveis apesar da crise econômica instalada no país nos últimos anos?
Capacidade de Ler o Ambiente de Negócios, simplicidade para agir e adesão à Cultura e aos Valores das Empresas.
E para aqueles que perderam sua colocação no mercado, qual seria o melhor caminho para o retorno?
O inverso do que disse acima, aqueles que “vão de fantasia no velório” e que não conseguem livrar-se de soluções complexas para problemas simples.
O que considera primordial para se tornar um profissional de destaque?
Capacidade de Leitura do Ambiente, Alinhamento com os Princípios , Cultura ,Foco e Simplicidade para a Ação.
Como visto na entrevista acima, a adesão aos princípios da empresa é vital para todo profissional.
Aproveitamos para agradecer mais uma vez o sr. Otto Silva pela entrevista concedida à Labone.